O presidente da república em exercício, Geraldo Alckmin, sancionou lei de nº 14.742, de 30 de novembro, que reconhece como Patrimônio Imaterial do Brasil as obras do poeta, compositor, cineasta e jornalista piauiense Torquato Pereira de Araújo Neto. A lei de autoria do deputado Flávio Nogueira (PT), foi aprovada no Senado no dia 24 de outubro deste ano, e agora foi sancionada.
“Quando eu recito ou quando eu escrevo uma palavra, um mundo poluído explode comigo e logo os estilhaços desse corpo arrebentado, retalhado em lascas de corte e fogo e morte (como napalm), espalham imprevisíveis significados ao redor de mim. […] uma palavra é mais que uma palavra, além de uma cilada. Agora não se fala nada e tudo é transparente em cada forma; qualquer palavra é um gesto e em sua orla os pássaros de sempre cantam apenas uma espécie de caos no interior tenebroso da semântica. […] Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema.”
– Torquato Neto, em “Os últimos dias de paupéria”
A vida do Poeta –
Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina em 1944. Em 1961 mudou-se para Salvador, onde conheceu Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa. A partir de 1963, no Rio de Janeiro, estudou jornalismo e participou de movimentos estudantis, mais tarde formou com esses e outros artistas, como Capinam e Tom Zé, o movimento tropicalista, que fundia referências de gêneros musicais diversos, como a bossa nova, o rock e ritmos regionais.
Entre suas primeiras letras está Louvação, lançada inicialmente por Elis Regina e, posteriormente, pelo seu coautor, Gilberto Gil, em 1967.Assinou também músicas como Geleia Geral, Mamãe, Coragem e Pra Dizer Adeus, musicadas por Gil, Caetano Veloso e Edu Lobo, respectivamente e incluídas no icônico LP Tropicália ou Panis et Circensis, um dos álbuns marcantes de 1968.
Em 1968, após a prisão de Caetano e Gil, resolveu deixar o Brasil. Depois de um ano morando em Londres e Paris, retornou ao Rio de Janeiro. Casou com Ana e teve um filho único, Thiago.
Entre 1970 e 1972, Torquato atuou nos filmes Nosferatu no Brasil e A Múmia Volta a Atacar, de Ivan Cardoso, além de Helô e Dirce, de Luiz Otávio Pimentel. Entre 1971 e 1972, redigiu a polêmica coluna “Geleia Geral”, no jornal carioca Última Hora. Nesse espaço, militou pelo cinema marginal e pelos direitos autorais e combateu o Cinema Novo e a música comercial.
Teve também poemas de sua autoria transformados em música, como foi o caso da canção “Go back”, dos Titãs, composta a partir de um poema de Torquato escrito em 1971.
Em seu último ano de vida passou por internações voluntárias e crises de depressão, Torquato Neto morreu em 1972, no Rio de Janeiro.
O Poeta, também conhecido como Anjo Torto deixou contribuições imensuráveis para nossa sociedade, e grande orgulho para o Piauí. O Governador Rafael Fonteles comemorou o reconhecimento de seu conterrâneo através das redes sociais:
“Essa iniciativa celebra a grandiosidade e a relevância cultural do nosso Anjo Torto. Viva a cultura piauiense!”
Reconhecer a obra de Torquato é reconhecer a grandeza de nossa terra. Torquato foi o que teve que ser, foi um homem, um louco, um poeta. Em sua breve passagem deixou obras eternas, ricas e vivas.