Na sessão especial de 170 anos da cidade, o Clique Cultura reuniu poesias, histórias e memórias compartilhadas por artistas unionenses no dia 17/09 – que marca a emancipação política da antiga fazenda de gado, Estanhado.
Confira:
RESSACA
Minha terra tem palmeiras onde caem babaçus
As águas que aqui desaguam,
Não desaguam como lá…
Minha terra tem barragem, cachoeiras e bueiros,
Tem o morro do Apache, tem o morro do Urubu…
Minha terra tem vaqueiros, cabocos e romeiros…
Tem a igreja mais bonita do sertão,
Gente que reza com folhas pra afastar o mal,
Tem padres, freiras e diáconos…
Tem gente de muita fé.
Minha terra tem capoeira, tem gingados…
Tem o bumba meu boi,
Tem os mestres de reisados…
Patrimônios Vivos parados nas esquinas…
Tem gente atravessando o cais…
Minha Terra tem a Lanchonete do Zé Silva
A esquina do Zico
Lotada de gente que não joga futebol,
Mas joga na loteria
E se distrai pelas calçadas.
Minha terra tem Valéria,
tem Adriana…
Que correm com as bolas nos pés
E fazem a cidade
Aparecer na televisão…
Minha terra tem João Batista,
Marcos Brito e outros poetas
Minha terra tem Sônia,
Francisca e Luzineide,
Mulheres de Castro que irmanam educação.
Mesma terra de Hermogenes,
Henágio e Marcelino…
A colorir verdades
Escondidas sob telas
Em transbordantes pensamentos.
A mesma terra dos “Josés”
Pereiras, Sampaios, Irenes,
Antônios, Silvas e Medeiros …
Mesma terra de Franciscos,
Chagas e Teófilos..
Minha Terra tem os Cadetes do Forró,
Isac do Acordeon e Pachico Zabumbeiro…
Tem Onofre Neto e o Broa do Piseiro
Tem o Chiquinho do forró
invocando a macumbeira.
Minha terra tem gente de Cortesia
Como Zé Quaresma, Fernando Araújo
E Everton Lopes…
Que quando abrem suas bocas,
É como se Deus não tivesse desistido de nós…
Na minha terra sobra tempo,
Na minha Terra sobra dinheiro
É lá que descobrimos quem realmente somos
E se ainda há tempo de ser
Muito mais que uma ressaca.
(Irla Milena)
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“Queria eu um dia não ter nascido em união. Não ter bebido da fonte de tanta informação. Queria mesmo era varar a cerca do apache e rasgar cueca no arame farpado da poesia. Mas nasci aqui cheio de vida correndo n croa das areias do Parnaíba. Cresci aqui aprendendo dançar reggae com o Caubé nas noites da balão. E lá no morro do urubu nessas noites de lua cheia conheci o cheiro da cidade querendo dormir. Foi lá nesse dia que descidi. Não saio daqui não me bote pra correr. Meu pó será teu. Minha alma será tua.”
(Brígido Neto)
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“Ha exatos 184 anos, tombava na localidade Conceição, margem esquerda do rio Parnaíba, o comandante em chefe das forças legalistas do Piauí, o major M. Clementino de Souza Martins, alvejado por um grupo de balaios enquanto guerreava nas matas do “Baixoes”. Morto, seu corpo foi levado ao ponto militar de Santa Rita e em seguida trasladado rio-abaixo, até a Capela do Estanhado, onde fora sepultado. A Balaiada manchou de sangue o chão do Estanhado entre meados de 1839 ao final de 1840. É a grande referência histórica do município de União!!!”
(Piquete explorador do Estanhado)
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Ato de amor 1º – Canto ao Estanhado
Quando caminho pelas ruas da cidade
E vejo a mocidade sorrindo para mim
Parece que ando em cima das nuvens
Desfilando num jardim.
O cheiro que traz das águas
A vida pulsando em alegria
Me deixa quase sem fala…
Ah! Que beleza rara, este eterno estado: poesia.
Quando vejo o gado comendo a grama
Tão verde como a esperança
E o sol alumiando por traz do nosso morro,
Eu corro como um louco, sorrindo como criança.
Nesta hora sou vaqueiro, ingazeiro, aboiador,
Sou a rede lançada no rio,
Sou o peixe e o pescador
Filho do meu sertão, que tão forte me criou.
Seja lá nas quedas da formosa
Ao nilo novo que secou
Nas montanhas das montanhas
Às santas vitórias de meu avô…
Nossa terra tão linda e tão vistosa
Que seus filhos jamais abandonou…
Não, não é apenas um olhar apaixonado,
Ainda vejo a fome, o homem explorando o homem,
Temos tanta coisa pra mudar,
Mas isso não me cega à visão do estanhado,
Meu berço tão amado, minha terra, meu lar.
Então vamos caminhando olhando em frente,
Nesta linda comunhão,
Do homem com a natureza, o povo em união,
Rios e morros nos forjando, fortalecendo as correntes,
Não aquelas que prendem nosso povo,
Mas as que libertam e unem nossa gente.
E assim do nascer ao pôr do sol
Na quentura da pele sertaneja
Eu vou apreciando a beleza
Da minha terra sem igual.
E de noitinha, como agora, eu olho pro céu estrelado,
Meus dois olhos marejados
Choram de agradecimento.
Ó meu belo estanhado, meu torrão tão amado
Não existe outro lugar que eu quisesse está vivendo.
E quando o arquiteto do mundo me chamar,
E eu com teu barro me misturar
Na argila moldada no calor,
Seremos novamente um só,
O morro, o rio, a grama, o pó,
Na indivisível união do amor.
(Marcos Brito)
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“Feliz niver Estanhado! Estranhado! Penso, de longe, sempre, quente, em ti! Quede, aquele sol? É Niterói? Não, do outro lado do Rio, é o Marãião, meu irmão! Tu tá é em União!“
(Marcelino Cruz)
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União canta poesias; encanta por todo canto. Longe ou perto, não perde o encanto; faz dança na beira do rio, naufraga entre os aguapés da Barragem e é galardoada rainha suprema com a “Crôa” do Parnaíba.
(Sanny Ravanne)
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Dos olhos estranhos
De onde estamos
No peito um canto
Na alma o encanto
Pelas terras que planto
Pelas ruas é pranto
Em cada casa seu santo
Que toda roda o estanho
Esteja sempre no cavaco
(Danilo Carvalho)
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P A R A B É N S U N I Ã O
Em cada canto, um encanto
Em cada grupo, uma cultura
Nesta terra que amo tanto
Acho linda a nossa mistura,
Nossas festas de fevereiro
Do mês de junho e agosto
Nosso povo tão guerreiro –
De boa conduta, bom gosto
Escolheu a antiga fazenda
Para aqui fazer moradia
Com seus causos e lendas
Aquela nova vila crescia
Hoje chamada de União
Orgulha-se desta data,
Mostrando a toda nação
A beleza desta terra pacata.
(Amorim Silva) __________________________________